2.5.06

Alta, magra, quase como uma modelo, ela fica ali só de enfeite. Pensa que é mais chique e fina do que seus companheiros e olha com desdém para os porta-retratos, os vasinhos e os outros enfeites que ocupam a sala. Apesar de estar praticamente anoréxica, se acha superior às outras velas decorativas, todas baixinhas e gordinhas. Esquece de lembrar que é menos estável que todos os outros, que pode cair ao menor toque.
Mas ela não liga para nada disso. Segue ali, com seu ar blasé, ignorando o que se passa a sua volta. Dizem que as velas costumam ser esquentadinhas, mas esta é de uma frieza sem igual. A única coisa que a deixa de cabeça quente é pensar que, um dia, caso acabe a luz e não seja possível encontrar aquelas velas de segundo escalão que são úteis nessas horas, ela seja acesa e perca todo seu glamour, se transformando numa simples vela operária.
No fundo, por trás de toda essa pose, ela guarda uma certa inveja dos lustres e abajoures. Para a vela, eles que são felizes, sendo muito mais eficientes na hora de iluminar e sem perder a sua beleza. Enquanto a vela um dia morrerá de tanto trabalhar, deformada e esgotada.

25.4.06

Centro da cidade, calçadão, lojas e gente andando por todos os lados. A imagem que se forma é conhecida por quase todos. Cada um lembra daquele abarrotado de gente perto do Natal, a conta que teve que pagar, o escritório que teve que visitar ali perto, a dificuldade para estacionar, o trânsito e tantos outros acontecimentos da vida na cidade grande.
No entanto, quanto mais pessoas um lugar atrair, melhor ele é para parar e observar. Bendita seja uma tarde livre para passear por lá. Dá para matar a curiosidade e ver o que tem no centro daquela roda que se forma no meio da praça. Dá para sentar e observar os tipos que circulam: tem casal discutindo, grupo de senhoras, adolescentes que ainda não tiraram o uniforme, mães confusas com a tarefa de carregar as sacolas e não perder os filhos no meio da multidão ao mesmo tempo, vendedor de todo tipo de coisa, promotor distribuindo toda a sorte de folhetinhos. Dá para ver o que cada loja faz para sobreviver, utilizando de locutores ou modelos usando uma fantasia de coração. Dá para andar com calma naquela feirinha que você nem imaginava que existia.
Acontece de tudo todos ou dias, a gente que se esquece de ver. Experimente observar ao seu redor quando estiver caminhando no centro. Perceba as vidas que seguem a sua volta. Fique atento os detalhes.
Faça como o clown, que consegue ser lúdico onde pouca gente tem tempo para isso.

18.4.06

Minha vida como se fosse um filme: Paixonite pré adolescente


Estavamos eu e uma amiga no elevador do meu prédio. Eu tinha 12 anos, ela por volta de 9 ou 10 anos. A nossa intenção era buscar algum brinquedo meu em casa. Tive uma infância e pré adolescência saudável se pensarmos que foi essencialmente urbana. O mundo lá fora já era proibitivo para ser lugar de brincadeira de criança, mas morava em um lugar que estava longe de ser daqueles que quase obrigam as crianças a ficar em casa, muitas vezes sozinhas. Carros e apartamentos conviviam com crianças correndo, árvores prontas para serem subidas e espaços seguros para jogar bola na rua, andar de bicicleta, pular amarelinha, brincar de esconde esconde. Mas fomos recorrer a alguma diversão guardada em casa.

Abri a porta, minha amiga me esperava na escada externa e fui até meu quarto. No meio do corredor, minha mãe com algum papel nas mãos. "O que é isso?", dizia. Não estava necessariamente brava, mas tinha uma certa severidade no que falava. Não sei se pelo tal papel ou porque esse jeito faz parte da personalidade dela. Então ela me mostrou uma carta (era isso o tal papel). Alguém deixou para mim debaixo da porta, ela viu e não gostou. Eu li e estranhei, sem contar que a carta tinha um perfume doce demais, que deixava o ar enjoativo mesmo pouco mexendo no papel. Como naquele momento estava só de passagem, peguei o brinquedo e fui embora. Minha mãe não insistiu, afinal nem sempre somos responsáveis pelas cartas que recebemos.

Saí explicando o porquê da demora para buscar apenas um brinquedo. Um dos garotos que brincavam conosco tinha me enviado uma carta. Era uma carta de amor. Ele tinha 11 anos, eu tinha 12. Minha mãe estava achando cedo demais para que eu recebesse cartas de amor.

No começo da noite, voltei para casa e recebi um sermão sobre garotos e namoros nessa fase da vida. Algo como "você não tem idade para levar isso a sério". Eu não tinha vontade de levar a sério, o garoto nem me interessava. Por que ele manda a carta e eu que recebo recomendações de conduta? Fiquei encabulada com a situação, então escondi a carta por um tempo, depois joguei, mais com a intenção de me livrar do perfume enjoativo do que da própria carta.

Não só a carta sumiu, mas eu também tentei sumir do garoto por um ou dois dias. Depois seguiu uma encabulada insistência infantil, juntamente com a persuasiva pressão do grupo. Cedi aos poucos. Dias depois trocamos beijos no rosto atrás de uma árvore, que terminou comigo correndo de vergonha. Mais alguns dias e estávamos namorando. No terceiro dia, ele acabou o namoro comigo. No fim de semana seguinte, meu "ex-namorado" estava com uma amiga minha de 9 anos, num relacionamento que durou uma semana.

Talvez minha mãe estivesse certa quando disse que a gente não tinha idade para levar isso a sério.

Tentativa 1.067.569 de ter um blog. Eu devo ter feito minha primeira conta em um serviço desses logo q li a primeira matéria sobre o surgimento desse novo tipo de site. Ajudou, na época, a organizar e atualizar de forma melhor e mais rápida a seção de notícias de um site que tinha. Devia ser 2001 ou 2002. Ao longo desse tempo, sempre tive alguma tentativa de blog hospedada em algum lugar. Nada que durasse ou prestasse o suficiente para que eu pudesse dizer às pessoas que eu tinha um blog. Até layout personalizado eu já fiz. Enquanto eu não saía do mesmo lugar, minha irmã começou a se interessar pela internet, montou um blog, aprendeu html e photoshop para fazer seus próprios templates, começou a fazer templates para os outros, tinha uma média boa de visitas em seu blog adolescente, foi abandonando o blog aos poucos, desistiu e agora acha idiota o que ela fazia do antigo blog dela. E eu, a usuária avançada da casa, nunca tive um blog de verdade. Tarefa difícil.

Bom, antes disso, eu preciso começar. Acho que já enrolei o suficiente para arranjar um lugar onde eu pudesse escrever (sem contar meus antigos cadernos, claro). Esta é a minha tentativa baseada em fatores externos para manter este blog. Vamos lá então!